domingo, 22 de maio de 2011

Geração Ruim.

Estou farto de ser de uma geração tão rotulada. Gosto que falem de mim, mas isso não está nem em questão. Não me chateia que me xinguem, aprendi a ver o lado positivo de ser o quatro olhos, na pior turma.
O que eu não tolero é pagar pelos erros dos outros. Se sou de uma geração ruim, foram eles que me educaram. Se sempre tive tudo e não sei lutar pelos meus objetivos, foi porque eles sempre me deram tudo e nada pedem em troca. Se afinal luto demais e reivindico, sou um anarquista revoltado, filho ressentido do Golpe Militar, quando na verdade nem do regime militar me lembro, apenas quero ter um futuro.
Sou da geração ruim, mas com mais formação que este país alguma vez teve. Discuto fenômenos de transferência de Energia, sei a importância de uma enzima no processo digestivo, inventei o Facebook (que vocês, que reclamam da 'nova geração' tanto gostam), e chego a compreender o papel da Grafite numa central de Energia Nuclear. No entanto, isso não é suficiente, sou avaliado todos os dias, porque sou da geração ruim, aquela que vocês educaram.
Texto adaptado do http://zickrs.blogspot.com/2011/03/geracao-rasca.html

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Piazzoleando - Frederico García Lorca


Perdi-me muitas vezes pelo mar
Com o ouvido cheio de flores recem-cortadas
Com a lingua, cheia de amor e de agonia
 
Muitas vezes me perdi pelo mar
Como me perco no coração de alguns meninos

Porque as rosas buscam em frente
Uma dura paisagem de osso
E as mão do homem não tem mais sentido
Que imitar as raízes sobre a terra
Como me perco no coração de alguns meninos

Perdi-me muitas vezes pelo mar
Ignorante da água
Vou buscando uma morte de luz que me consuma

quinta-feira, 19 de maio de 2011

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(Música: Steve Ray Vaughan - Little Wing)
Era madrugada. Novamente. Enquanto a luz neon do motel era filtrada pela persiana barata. Enquanto o silêncio se impunha, doce como perfume barato, pesado como chumbo, frio como gelo. Enquanto o quarto fervia num calor modorrento, inquietante. Uma daquelas abafadas noites de outubro, tão comuns nessa prodigiosa cidade da luz. Ao som de Stevie Ray, Jimmi Hendrix e John Frusciante, procurava. Procurava assim como quem se perde: Sem saber, sem notar, distraído por algo que lhe fugia sempre que estava prestes a descobrir. Como se a procura em si fosse mais importante que o achado. Como devemos ser.

Mas antes de tudo (e durante, e depois, e sempre) sentia a angústia de não saber exatamente o que o angustiava. Ou o que procurava. Opinião minha, acho que procurava 'não procurar'. Sim, é complicado, mas exemplifico: dou-lhe uma ordem: Não pense em nada. 'O não-pensar já é pensar em dizer', já diria Amarante, do Los Hermanos. Entende? O simples fato de 'não-procurar' já era a busca em si.