sábado, 4 de agosto de 2012

Noite


O gosto amargo da cerveja combina-se com o sabor do meu coração. O garçom anuncia o fechamento da casa, enquanto espero que o sol nasça para voltar... Mas voltar para onde? Aonde ir? Um retorno é impossível, um avanço, sem direção. 'Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor...' Peço a última (até agora) e encaminho-me à rua, essa acolhedora e terna irmã-mãe-amante-escrava-senhora que, na falta de algo melhor, me completa... Retiro meu violão da sacola, deito-me no banco mais próximo e assassino algumas músicas, cultivando meu desespero. Morrer é só para os fortes, sou covarde demais até para isso. Estou suando, o sol na minha cara, mas o frio que sinto na alma é aterrador, embota meus sentidos e toma toda minha mente.
Como não repetir os clichês? Afinal, essa pobre coitada que é nossa linguagem verbal não consegue expressar 10% do que queremos dizer, e a estilística, ainda que completando-a razoavelmente, limita ainda mais nossas possibilidades... Dizer o indizível, traduzir materialmente aquilo que sequer conseguimos definir para nós mesmos, que dirá externar... Isso, além da dor em si, aflige-me mais: alguém que me entenda, na verdade, não entende de maneira alguma. Nem eu a esse alguém... Metralho algumas palavras, enquanto escuto Cartola, Orlando Silva, Noel Rosa e outros tantos boêmios, alegres e sofredores, sambistas e trovadores, apaixonados e desiludidos... E tento entendê-los, no desespero da necessidade, do tanto que Preciso Me Encontrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expresse o que há em sua mente.