domingo, 29 de dezembro de 2013

Dos dias

De minha sangrenta essência humana tento tirar letras e frases e períodos e pontuações e tudo o que pode ser dito, buscando o indizível, escrevendo sem rumo, deixando que minha mente vague por onde quer que o texto me conduza. Há, acima de tudo, algo que move a todos aqueles que, como eu, escolhem a escrita como tentativa de se expressar, de se impressionar ou de simplesmente ~cubificar~ o mundo... ah, a noz da casca do universo...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Exercício 2

Pacífico, vida, velocidade.

Pensava no oceano que cortava, dentro de sua embarcação. O Pacífico, com todas suas cores e frieza, estendia-se como um titã adormecido, imperturbável. O suave som da chuva rala misturando-se ao ruído baixo e constante das ondas sendo cortadas refletiam a velocidade do seu coração: lento, calmo, sossegado. Deitado no convés, ignorando os pingos que caíam em seu rosto, encarava o céu de nuvens esparsas. "O mundo rasga-se ao meio", pensava, "enquanto não sabemos sequer se estaremos vivos pra ver o próximo amanhecer...".
Começou a tocar uma guitarra imaginária, repetindo as notas tão batidas e rebatidas e decoradas, em sua mente copiando uma valsa que desse um tom mais melódico e (porque não?) melancólico à vida....
"Só consegue ser feliz na vida que já conheceu a tristeza... mas eu devia anotar todos esses pensamentos..." refletia....
                                                       (Noite de Lua - Dilermando Reis)



Proposto por Ana Luísa (que, por sinal, possui também um ótimo blog: http://tollitur-quaestio.blogspot.com.br/ )

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Exercício 1

moto, luz, grade.
A luz que se filtrava pelo telhado projetava-se em raios através da poeira, como num fim de tarde calorento qualquer... a mente atormentada trabalhava, trabalhava, trabalhava... sem objetivo claro, inquieta, incerta, como um moto contínuo, sem conseguir parar por si só. Sofria a angústia das grades do movimento eterno, do PENSAMENTO eterno! Mas que A-GO-NIA não poder parar de racionalizar, de raciocinar, de racionar...


(Série de posts seguindo a linha do 'Exercício Mental' que costumo fazer: pegar 3 palavras quaisquer, aleatórias (ou não) e tentar interconectá-las, seja numa história, numa crônica ou texto completamente sem sentido. Se tiverem sugestões de palavras, caixinha de comentários está disponível, e eu, disposto.)

sábado, 2 de novembro de 2013

Pai Nosso - Cartola

Se eu te encontrar um dia agonizante.
Morrendo em desespero, de remorsos
Pelo mal que me fazes a todo instante
Eu rezarei por ti um pai nosso

E se pensares o quanto me ultrajaste, e me pedires perdão, eu dar-te posso
Em louvor a algum bem que me causaste
Eu rezarei por ti um pai nosso.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Visualize (4)

(Charles Mingus - Moanin')
Enquanto almoçava num restaurante qualquer 'classe-média-semibarato' (não era rico, porém não precisava de muito dinheiro, e se satisfazia sem precisar gastar muito), assustava-se em imaginar a insignificância dos seus atos em uma cidade de 3 milhões de habitantes, que dirá no mundo todo... Escutava agora todas as bandas, todos os estilos possíveis, numa cacofonia de enlouquecer deuses, querendo utilizar todo esse som como um mantra meditativo. De olhos fechados. Com um ar de hippie pós-moderno (alguns chamariam de dândi, na década de 90. Outros, de workaholic, no começo dos anos 2000. Hoje, é simplesmente um novo-jovem qualquer jogado no mundo.) Sem pensar, sem raciocinar, compreende tudo, o mundo que se passa ao seu redor, naquele instante.
Sem companhia humana para a refeição, comeu junto com seus pensamentos, sua mente e sua alma, com seu ser dissociado em carne, consciência, sentimento e conclusões, as quatro partes intrínsecas que caracterizam um ser humano.

Pois somos carne, feitos dela e dependentes dela.
Pois somos consciência, é o que nos faz perceber nossa condição
Pois somos sentimento, é o que nos desequilibra, tempera e torna humanos

sábado, 14 de setembro de 2013

Visualize (3)

(Música: Paradis - La Ballade de Jim)
Mas voltando, era apenas madrugada. Aos poucos o otimismo começava e permear-lhe, ainda que muito timidamente. Entretanto, passava a ter esperança, e isso, ainda que no meio daquela angústia, já era muito. Uma fina chuva, tal qual um lençol frio, começava a cair, e o calor começou a ceder... A cidade parecia alinhada com suas emoções, acompanhando-a tal qual uma mãe se alegra ou se entristece em ressonância com os sentimentos de um filho...

A solidão já não o incomodava. Na verdade, há muito tempo desejava um momento onde estivesse só com o Tempo como companheiro, sem necessidade maior do que olhar-se e desvendar seus reflexos. Nesse momento, já não sofria, já não sentia.

O dia nascia, lembrando-o de Renato Russo (Veja o sol dessa manhã tão cinza...) e a vida tinha que seguir. Era sábado, não tinha aula. Era sábado, não tinha trabalho. Era sábado, não tinha o que fazer. Era sábado, dia de viver.

Visualize 1: http://nonsensevirtu.blogspot.com.br/2011/05/visualize-1.html
Visualize 2: http://nonsensevirtu.blogspot.com.br/2012/10/visualize-2.html

domingo, 28 de julho de 2013

7 Anos

Ah! Que saudades que tenho dos meus 7 anos... Lembranças que vêm e vão na velocidade de uma mudança de acordes numa música qualquer.
Lembro-me, ainda, dos saudosos fins de tarde, onde a luz avermelhada do sol parecia preencher a minha vida... O calor sufocante de uma cidade tropical, ainda mais aterrador para uma inocente criança que nem sabe o que é seu país direito, que dirá de onde fica no mundo...
As lembranças das lições, há muito esquecidas, mas tão aprendidas e apreendidas, que ainda lembro das tabuadas, principalmente a de nove, que quase todos calculávamos nos dedos...
O futebol (jogado com garrafas plásticas e algumas canelas com hematomas) com os colegas, aquelas pequenas brigas que mais pareciam batalhas épicas de dramas televisivos, em nossa inocente visão.
E aqueles olhos. Ah, aqueles olhos verdes, que até hoje me vêm à memória em algumas noites mais saudosistas. Seus olhos e seus olhares...
Éramos ambos destaques da turma. Nós revelávamos, também pelos olhos, uma inteligência viva, inquieta, que por vezes chegava a assustar alguns dos colegas...
Hoje, década e meia depois, ainda guardo na memória as tardes passadas naquele colégio, na companhia de pessoas que hoje pouco recordamos... Será que você ainda lembra de mim?
Hoje, década e meia depois...

terça-feira, 23 de abril de 2013

Youth

Sou da juventude que não sabe distribuir amor. Que nunca aprendeu, ou desaprendeu a amar. Que aprendeu a não dizer 'Eu te amo' pra quem conheceu há 5 minutos (ou 5 meses, ou 5 anos). Que sabe que o amor é escasso, ralo e quase sempre falso. Que por saber disso o tornou ainda mais escasso, ralo e mais carnal. Mais efêmero. Mais triste. Mais parecido com o fim de um cigarro, e menos com um começo de festa.
Uma juventude que suspira na iminência de uma respiração presa, travando tudo. Todos. Que tem medo de amar, menor somente do que o medo de ser amado.
Eu sou da geração que sangra pelo medo de sangrar. Que a angústia é maior que a realidade. Que a chuva cobre tudo, e que passa anestesiada pela vida e pelos sentimentos...

Que nem sangrar consegue mais.

And if you're still bleeding, you're the lucky ones...
'Cause most of our feelings, they are dead, and they are gone...