sábado, 11 de agosto de 2012

Som


Enquanto os lasers, estrobos, subwoofers e todo o resto da parafernália audio-visual bumba, estronda, explode e retumba a rítmica repetição revoltante, o cigarro finda-se. Saudades do que devia ter feito, arrependimentos do que não fiz nem queria Up on melancholy hill there's a plastic tree...
Todos balançam, batem, rebatem, rebolam e sorriem, alguns por efeito de substâncias variadas... E tudo o que eu sinto é uma anestesia profunda causada pela garrafa de água gelada que tomei há 5 horas atrás. Com ares pseudo-niilistas volto a queimar insistentemente a garganta com essa fumaça quente, asfixiante, incorreta, fedorenta e chata.
Chego em casa e me ensurdeço um pouco mais, ouvindo no volume máximo o que eu sempre sinto, porém, desaprendi a demonstrar...






Ser humano é ofensivo. (todos os sentidos de interpretação e direções de (re)leitura dessa frase são permitidos.)


Nota mental: Parar de sair 'só pra não passar a semana dentro de casa.'

sábado, 4 de agosto de 2012

Noite


O gosto amargo da cerveja combina-se com o sabor do meu coração. O garçom anuncia o fechamento da casa, enquanto espero que o sol nasça para voltar... Mas voltar para onde? Aonde ir? Um retorno é impossível, um avanço, sem direção. 'Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor...' Peço a última (até agora) e encaminho-me à rua, essa acolhedora e terna irmã-mãe-amante-escrava-senhora que, na falta de algo melhor, me completa... Retiro meu violão da sacola, deito-me no banco mais próximo e assassino algumas músicas, cultivando meu desespero. Morrer é só para os fortes, sou covarde demais até para isso. Estou suando, o sol na minha cara, mas o frio que sinto na alma é aterrador, embota meus sentidos e toma toda minha mente.
Como não repetir os clichês? Afinal, essa pobre coitada que é nossa linguagem verbal não consegue expressar 10% do que queremos dizer, e a estilística, ainda que completando-a razoavelmente, limita ainda mais nossas possibilidades... Dizer o indizível, traduzir materialmente aquilo que sequer conseguimos definir para nós mesmos, que dirá externar... Isso, além da dor em si, aflige-me mais: alguém que me entenda, na verdade, não entende de maneira alguma. Nem eu a esse alguém... Metralho algumas palavras, enquanto escuto Cartola, Orlando Silva, Noel Rosa e outros tantos boêmios, alegres e sofredores, sambistas e trovadores, apaixonados e desiludidos... E tento entendê-los, no desespero da necessidade, do tanto que Preciso Me Encontrar.