quinta-feira, 15 de maio de 2014

When?

Sinto-me como um vaso quebrado.

Sabe, aquela pintura que foi deixada pela metade? Aquela coisa de quando você vê algo bonito, mas que ou não terminaram, ou quebraram e ficou... deslocado. Fora do normal.

As imagens que cortam minha mente, agora, são de copos de vidro estourando (não sei se é a vontade de jogar esse copo que tenho do meu lado), de algo grande acontecendo e eu sem conseguir me sentir parte daquilo. Parte do erro de um erro de um erro de um erro, como diria Guimarães Rosa.

A vida não é fácil, a gente tem de deixar de ser tão fresco.

Verdade, porém, tem horas que não dá. Tem horas que você não quer nem mesmo ajuda. Horas que você só quer não mais querer. Não mais incomodar. Não mais precisar de ninguém, ou se responsabilizar por nada.

Sei lá, talvez a morte seja mesmo a liberdade.

Quer seja pagando pelo que fizemos aqui (bem, uma certeza é que será desbalanceado, e como teremos a eternidade...), seja mergulhando no vazio. Parece bem melhor do que fritar seu cérebro com coisas tão sem sentido quanto um chute numa pedra solta.

De tão único que sou, genérico torno-me naquilo em todos somos iguais: finitude da existência.

Bêbado de poesia, vazio de sonhos, louco de remédios, seco de amor, assim vou
Não espero nem voltar, nem nunca mais amar, sequer relembrar
Busco no nada o que não consegui encontrar em todo o resto
Se não encontrar, já sei que não presto
Sequer para assinar esses versos
E que o melhor será lá ficar
E que o melhor será lá ficar
E nunca mais

terça-feira, 13 de maio de 2014

Páginas de uma carta qualquer (2)

... e minhas costas doem, sabe? Quando o tempo esfria e eu não tenho ânimo pra levantar, começo a sentir essa dor chata e triste, quase como quando você foi embora naquele verão em 89, eu tinha vinte anos e reclamava de tudo e de todos, mesmo sendo você a única coisa perfeita no meu mundo eu reclamava que você não errava, que eu não errava, que nada era errado pra gente, e continuávamos sempre ouvindo aqueles rocks e querendo estar em London, London, ou então batíamos cabeça em todos os shows que íamos. E aí você foi embora, eu me senti caindo caindo caindo, como quem voava a 200 km/h em direção a um copo dágua, não sabia onde era o chão, exatamente...

... só queria te falar que tenho saudade, mas não sei se de você, daquele tempo, da gente ou simplesmente dos sentimentos e sensações que tínhamos. Não sei, nunca quis muito entender aquilo, ficou como uma eterna interrogação na minha cabeça que substituiu todas as outras, e toda a vida passou a fazer sentido menos aquilo, que dificilmente me ocupava, principalmente depois do meu terceiro casamento e do quinto filho...

... mas deixa pra lá, o melhor é você tratar dessa sua cabeça (vi pelo facebook que você anda com dores sempre) e não facilitar, a gente já não tem mais 20 anos, e tudo que é de ruim começa a aparecer, inclusive amigos mortos, e isso não é legal...


... te espero do outro lado,
Paul.

P.S.: Ah, e talvez meu velório seja marcado pra daqui uma semana, por isso estou enviando por sedex.

P.S. 2: Essa foi minha última carta, lembro que você gostava muito quando eu ditava umas cartas aleatórias e sem nexo pra você, quase um Rimbaud pobre, louco, e extremamente pretensioso...

P.S. 3: Comprei um semana passada pro meu filho.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Exercício 4




    (The Who - Behind Blue Eyes)



Proposto por Amanda Fernandes.

Olhos, lembranças, cansaço

Da sinestesia causada pelo som de sua guitarra solitária na noite, ele sentia todo o peso dos seus 19 anos.

Ou seja: era mais um adolescente leviano e com uma paixão desmedida por seu instrumento, pela música e pela vida.

Entretanto, os olhos dele...
Um castanho escuro, o outro quase cinza. Traziam em si um cansaço atemporal. Um cansaço pálido, insensível. Nem ele mesmo sabia disso, não tinha consciência.
Mas toda vez que se encarava no espelho, vinham certas lembranças que ele não sabia determinar se eram reais, sonhadas ou....

Como uma vez, certa garota disse (ou ele sonhou? ou...) : "Caralho, eu te amo. Mas não vou passar contigo mais do que essa noite."
Conseguiu compreender tudo, naquele momento fugaz, mas logo em seguida esqueceu o significado. Apenas apagou o cigarro e disse "sim. Também te amo. Aproveitemos, então. E até quando? Não, não responda. Foi retórica..."
E hoje, nos breves momentos em que se olha, se encara, fica com essa angústia.
Que, claro, não dura mais do que o momento em que se ocupa com sua vida.

Mas essas lembranças... seriam sonhos? ou seriam...

Três Minutos


1:35 a.m.
Meu sono dói, e meu estômago não vem
Dividido entre a insônia, preocupação e planos pro futuro
des-prezo meu corpo, espanco minha mente
assim como quem chuta uma lata de cerveja vazia no meio de um carnaval

Lata vazia, essa é uma expressão digna de uso por mim

Sangrenta essência de pútridos sentimentos, fétidos, fétidos, FÉ-TI-DOS!
Tal qual copo em desalinho, derrubo, trinco e vinho
Talvez a vida valha o clichê da pena, da cena, do riso...
1:38 a.m.