sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Volúpia (por Florbela Espanca)


No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Visualize (2)

(Música: John Frusciante - Going Inside)
Deixando divagações filosóficas de quinta categoria para depois, voltemos ao personagem: era fronteiriço em tudo. Velho para o preparatório, novo demais na universidade. Não era legal, mas não chegava a ser chato. Tinha conhecidos demais, amigos, de menos. Não era feio, mas era o máximo que se podia dizer. E até poderia-se falar que era uma pessoa neutra, mas não chegava a tanto... uma tendência para a empolgação e um gosto variado para esportes incomuns contrastavam com sua preguiça mordaz.

Era sim e não, positivo e negativo, simpático e sarcástico, era quase um yin-yang encarnado, a dualidade em pessoa. Mas não era bipolar, em absoluto. Ou seja: por mais que convivessem, o conhecessem, ninguém jamais lhe desvendou a alma completamente, nem ele mesmo.

(parte 1: http://nonsensevirtu.blogspot.com.br/2011/05/visualize-1.html )

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Abandon

O abandono de si mesmo é, possivelmente, um dos mais grandiosos, necessários e difíceis atos que o ser humano necessita realizar algumas dezenas de vezes durante a vida. Deixar de lado a si mesmo, olhar-se de fora, como um estranho qualquer que passe pela rua, ou como um velho tolo e feliz com uma doença mortal... Assumir um olhar qualquer, não pré-determinado ou pensado, simplesmente ir-se.
Abrir-se a um segundo, assim como se abre a um sentimento. Explorar a atemporalidade louca que só o 'go away and don't look behind, even if it's your body that you're leaving' provoca, correr sem mover um só pensamento...
Enquanto seguimos nossas fúteis e quase que insignificantes vidas, procurando não nos sentirmos sós até o próximo momento de abandono, damos um sentido de santidade que, na prática, não existe. Apontamos para a ordem dentro do caos, temos medo de algo que nos tire da nossa rotina, enquanto sempre reclamamos do tédio.
Só espero passar pela vida cada vez me abandonando mais.

sábado, 15 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

Do porquê de eu não gostar do grupo Sambô


Começando por... EU ODEIO QUAISQUER DAS VERSÕES DE SAMBÔ!

O que eles fizeram com 'Sunday Bloody Sunday' foi um assassinato, triplamente qualificado, com requintes de crueldade e tortura.

Essa música é pra ser de protesto, cantada com um tom pesado, carregado, trazendo algo forte, puxando nos sons de û, î, ê (todos em tons graves)... Aí o que o Sambô faz?

Transforma a música naquele pagodão que toca enquanto rola aquele evento na laje: churrasco (de uma carne péssima), cerveja ruim, a tia chata falando mal de todo mundo e os agregados aproveitando a boca-livre... Enquanto isso, a meninada tomando banho na mini-piscina comprada na última liquidação.

(Não é que eu tenha preconceito contra isso, é que simplesmente NÃO corresponde à minha realidade diária, e as músicas que rolam em tais ambientes chegam a me dar repulsa.)

Rasgam o 'tonight' botando um THUNAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAITI ridículo (ps: Bono canta 'thunâit' (na falta de um vocabulário fonético) dando um som fechado ao A, e tirando o E/I final.)

Agora, me apedrejem. (ou concordem comigo, o que acho difícil).

E aqui, sim, um samba de verdade:

sábado, 11 de agosto de 2012

Som


Enquanto os lasers, estrobos, subwoofers e todo o resto da parafernália audio-visual bumba, estronda, explode e retumba a rítmica repetição revoltante, o cigarro finda-se. Saudades do que devia ter feito, arrependimentos do que não fiz nem queria Up on melancholy hill there's a plastic tree...
Todos balançam, batem, rebatem, rebolam e sorriem, alguns por efeito de substâncias variadas... E tudo o que eu sinto é uma anestesia profunda causada pela garrafa de água gelada que tomei há 5 horas atrás. Com ares pseudo-niilistas volto a queimar insistentemente a garganta com essa fumaça quente, asfixiante, incorreta, fedorenta e chata.
Chego em casa e me ensurdeço um pouco mais, ouvindo no volume máximo o que eu sempre sinto, porém, desaprendi a demonstrar...






Ser humano é ofensivo. (todos os sentidos de interpretação e direções de (re)leitura dessa frase são permitidos.)


Nota mental: Parar de sair 'só pra não passar a semana dentro de casa.'

sábado, 4 de agosto de 2012

Noite


O gosto amargo da cerveja combina-se com o sabor do meu coração. O garçom anuncia o fechamento da casa, enquanto espero que o sol nasça para voltar... Mas voltar para onde? Aonde ir? Um retorno é impossível, um avanço, sem direção. 'Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor...' Peço a última (até agora) e encaminho-me à rua, essa acolhedora e terna irmã-mãe-amante-escrava-senhora que, na falta de algo melhor, me completa... Retiro meu violão da sacola, deito-me no banco mais próximo e assassino algumas músicas, cultivando meu desespero. Morrer é só para os fortes, sou covarde demais até para isso. Estou suando, o sol na minha cara, mas o frio que sinto na alma é aterrador, embota meus sentidos e toma toda minha mente.
Como não repetir os clichês? Afinal, essa pobre coitada que é nossa linguagem verbal não consegue expressar 10% do que queremos dizer, e a estilística, ainda que completando-a razoavelmente, limita ainda mais nossas possibilidades... Dizer o indizível, traduzir materialmente aquilo que sequer conseguimos definir para nós mesmos, que dirá externar... Isso, além da dor em si, aflige-me mais: alguém que me entenda, na verdade, não entende de maneira alguma. Nem eu a esse alguém... Metralho algumas palavras, enquanto escuto Cartola, Orlando Silva, Noel Rosa e outros tantos boêmios, alegres e sofredores, sambistas e trovadores, apaixonados e desiludidos... E tento entendê-los, no desespero da necessidade, do tanto que Preciso Me Encontrar.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Great Blues Harmonica Player

You start by having the woman you love rip your heart out of your chest, stomp on it, and leave it layin' in the cold november mud, while she packs up her things and never comes back. Then buy a good blues heart (key if C bends easily) then play to forget and play for better times to come. After all that... repeat process as necessary to achieve a bronken soul via vibrating metal reeds. There really is no better teacher than time.


quinta-feira, 29 de março de 2012

Páginas de Uma Carta Qualquer (2)

(...) então fujamos, minha querida! Para onde o sol não nos toque, a lua não nos veja e o escuro não precise nos encobrir!
E lá, minha amada... lá, faremos com O Cortiço inteiro se envergonhe... Lady Chatterley ficará ofendida, chocaremos Emma Bovary! Tórridos dias, ardentes noites, perigos e muito, mas muito daquilo que podemos chamar de amor... Seus pais? Uns puritanos hipócritas, talvez mais desavergonhados que nós mesmos, não ligue para eles... Que me diz?

Ah, sim já está tudo acertado com o caseiro de lá, só vamos precisar levar alguma comida, pro início e (...)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Poetizando

(recomendo escutar a música antes da leitura... ou concomitantemente, o que vier a calhar)


(Musica: Magoado, por Dilermando Reis)
As vezes eu fico meio assim
Chorinho e poesia
Tristeza e alegria
Mas tudo samba e simpatia

Há horas que gosto de ti
Outras nem tanto
Outras, portanto
Apaixono-me tanto...

Entendo, no fim
Do que se trata a vida
É rotina, dia-a-dia
Entretanto, uma bela poesia

E fico aqui
Refletindo
Ressoando
Poetizando

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Frases curtas de uma noite ruim (1)

Outra madrugada insone. O brilho da tela me ofusca os olhos, tal qual meu pensamento ofusca meu cansaço, e assim permaneço, intranquilo e conectado.